segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

BANALIZAÇÃO DA VIDA


  
   Era dia 10 de dezembro, às 4 am como dizem os americanos. Ana estava dormindo. Joana, como de costume, acabava de acordar para ir vender café na porta da estação de metrô. Carlos estava esquentando o motor do seu taxi. Rubens, com o fogo que tinha, estava liberando seus espermatozóides. Carlos, como tinha vida boa, ainda estava dormindo, e não iria acordar tão cedo, já que não tinha que trabalhar e vivia as custas do seus pais; Na verdade ele estava pouco se importando com isso. Era neste momento que Margarida estava acordando os filhos para ir para a escola, já que moravam muito longe do local dos estudos e ela desejava que seus filhos tivessem um bom futuro. Todos tinham uma vida muito parecida, exceto pelo fato de que hoje eles ouviram, todos ao mesmo tempo,  dois homens gritando. Um dizia ao outro: eu não tenho dinheiro! E o outro respondia: Isso não me interessa! Uma pergunta foi feita: Quer subir ou quer descer? A resposta não vinha. Uma gritaria que não deixava ninguém dormir se estendeu por aqueles minutos, tempo suficiente para que a vida de alguns pudesse ser mudada por algum motivo, ou não. Não se entendia mais nada. Não parecia mais o nosso bom português. Uma barafunda havia se estabelecido ali e dentro das casas. O barulho das falações estavam incomodando a todos, invadido cada cômodo, entrando em cada ouvido, mudando ali alguns momentos da vida de algumas pessoas que nada tinham a ver com aquilo, ou tinham. Do nada ouviu-se um barulho que se assemelhava a um tiro. Ana voltava a dormir. Joana, como de costume, agora se preparava para ir vender café na porta da estação de metrô. Carlos continuava esquentando o motor do seu taxi. Rubens, com o fogo que tinha, agora estava saciado. Carlos, como tinha vida boa, voltava a dormir, e não iria acordar tão cedo, ainda mais agora que seu sono fora interrompido, já que não tinha que trabalhar e vivia as custas do seus pais; Na verdade ele estava pouco se importando com isso mesmo. Era neste momento que Margarida acordou os filhos para ir para a escola, e direcionava todos para a mesa do café, tinham que correr, já que moravam muito longe da escola e ela desejava que teus filhos tivessem um bom futuro. Tudo voltava ao normal como qualquer outro dia. Na verdade todos desejaram que o menino tomasse logo aquele tiro para que tudo voltasse ao silêncio de antes, para que todos pudessem retornar as suas vidas normalmente, retornar a sua velha rotina. Nada de polícia, nenhum telefonema, nenhuma mãe desesperada, talvez em algum lugar da cidade, mas não naquele bairro e daquela periferia. Tudo continuou como antes.
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Na volta pra casa, depois de um dia exaustivo como todos os outros, havia um desenho de um corpo no chão. Mas ninguém parou para ver. O dia estava muito quente e cansativo para olhar para detalhes.

Não havia nada com o que se preocupar!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

HOJE FUI ASSALTADO


Por Marcel Moreno

          Estava eu sentado em um banco de praça comendo um chocolate. Coloquei  o alimento de lado para me concentrar em um livro. Estava um dia quente e particularmente chato. Uma pomba se aproximou. Olhou para mim como quem não quer nada e emitiu o som que todos eles emitem sem nem saber porque. - Gru gru gru. Eu concentrado no meu livro não dei a mínima par a fome da pomba como se a fome e a vida alheia não fossem um problema meu e nem fizesse parte do meu cotidiano. Ficamos ali desta forma por alguns minutos, e eu distraído, quando de um salto, um lance, a pomba deu uma bicada violenta e agarrou o chocolate. Eu que não iria deixar barato, agarrei do outro lado do doce, em uma tentativa dramática de resgatar o meu bem, o meu alimento. Assim travamos uma batalha, uma briga corporal quase como um cabo-de-guerra, no qual eu lutava bravamente pelo que era meu e ela lutava pelo seu intento. Eu gritava para ela soltar e que ela me devolvesse, que aquilo que ela estava fazendo era roubo, totalmente contra a lei. Ela argumentava que eu deveria ajudar quem mais precisava, que aquilo não poderia ser roubo, visto que ela estava agindo com o coração, que certamente poderia ter mais, que eu provavelmente já deveria ter mais. Entre troca de olhares raivosos e com medo, com corações acelerados e sangue correndo como carros em uma grande avenida, ela foi mais forte - não sei porque mas foi - ela arrancou o chocolate das minhas mãos. Logo que soltei, o chocolate voou pelos ares, e ao cair, se espalhou em segundos. Várias outras pombas apareceram e surrupiaram tudo o que conseguiram. Em meio a sentimentos de ódio, medo e impotência, chamei a polícia. Ela por sua vez pôs-se a chorar e a se perguntando se era crime roubar para alimentar seus filhos. Se a prisão então seria seu castigo por essa investida, investida de uma mãe desesperada, que vê seu filho doente, chorando por sua única vontade, vontade que o faria talvez alcançar a única felicidade que ele teria na vida, já que poderia não chegar a fase adulta.