quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

HOJE FUI ASSALTADO


Por Marcel Moreno

          Estava eu sentado em um banco de praça comendo um chocolate. Coloquei  o alimento de lado para me concentrar em um livro. Estava um dia quente e particularmente chato. Uma pomba se aproximou. Olhou para mim como quem não quer nada e emitiu o som que todos eles emitem sem nem saber porque. - Gru gru gru. Eu concentrado no meu livro não dei a mínima par a fome da pomba como se a fome e a vida alheia não fossem um problema meu e nem fizesse parte do meu cotidiano. Ficamos ali desta forma por alguns minutos, e eu distraído, quando de um salto, um lance, a pomba deu uma bicada violenta e agarrou o chocolate. Eu que não iria deixar barato, agarrei do outro lado do doce, em uma tentativa dramática de resgatar o meu bem, o meu alimento. Assim travamos uma batalha, uma briga corporal quase como um cabo-de-guerra, no qual eu lutava bravamente pelo que era meu e ela lutava pelo seu intento. Eu gritava para ela soltar e que ela me devolvesse, que aquilo que ela estava fazendo era roubo, totalmente contra a lei. Ela argumentava que eu deveria ajudar quem mais precisava, que aquilo não poderia ser roubo, visto que ela estava agindo com o coração, que certamente poderia ter mais, que eu provavelmente já deveria ter mais. Entre troca de olhares raivosos e com medo, com corações acelerados e sangue correndo como carros em uma grande avenida, ela foi mais forte - não sei porque mas foi - ela arrancou o chocolate das minhas mãos. Logo que soltei, o chocolate voou pelos ares, e ao cair, se espalhou em segundos. Várias outras pombas apareceram e surrupiaram tudo o que conseguiram. Em meio a sentimentos de ódio, medo e impotência, chamei a polícia. Ela por sua vez pôs-se a chorar e a se perguntando se era crime roubar para alimentar seus filhos. Se a prisão então seria seu castigo por essa investida, investida de uma mãe desesperada, que vê seu filho doente, chorando por sua única vontade, vontade que o faria talvez alcançar a única felicidade que ele teria na vida, já que poderia não chegar a fase adulta. 

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