terça-feira, 17 de janeiro de 2012

COMBINAÇÃO PÓSTUMA - FELICIDADE ANÔNIMA

 
Por Marcel Alves

                                                                        Aqui estou eu mais um dia. Estou pensando na minha existência. Como é difícil ser quem eu sou. Às vezes eu gostaria de ser outro. Fico até pensando se isso que sou agora não é uma mera imagem do que eu gostaria de ser e, internamente, sei que não passa de uma ilusão. Ilusão que eu criei para ser quem eu sempre quis ser. Sei que este que sou agora é muito preocupado. Sei também que toda a preocupação se refere sempre ao que vou ser daqui a pouco mais de 1 min e o que farei para ser ainda melhor daqui a 2. O fato é que perco tempo pensando e não sei ao certo se estou me modificando de fato. Se o meu interior esta passando por uma metamorfose que eu não sei se é real ou se não percebo. Sempre acho que sou o mesmo. Nunca olho para trás. Quando olho, vejo que já sou muito diferente do que eu era. Quando volto a olhar para frente sempre tenho uma surpresa. Tudo a minha volta está diferente. As pessoas que gostavam de mim, já não gostam mais. As pessoas que eu gostava, agora são um saco. E tenho novamente que me colocar no meu caminho tortuoso de ser eu mesmo na minha existência que não sei se existe.

    Queria ser menos preocupado. Alias, eu gostaria de estar entre o ignorante e o sábio, mas longe dos filósofos. Se eu fosse ignorante a vida seria mais fácil, pois bastasse que os sons entrassem por um ouvido e saíssem pelo outro e as minhas visões se limitassem a ficar na película que me permite enxergar de longe, e assim as informações não chegariam ao meu cérebro e eu não mais precisaria pensar sobre. Desta forma não haveria preocupação. Porque tudo que te faz pensar muito te causa uma preocupação. Queria ser como aquelas que vivem um dia após o outro e, quando menos esperam, morrem. E assim a morte vence o tempo, põe fim a existência daqueles que perambulam sem rumo, como num filme repleto de símbolos do expressionismo alemão. Se peço por ignorância? Não peço por ela, mas as que obtém seu estado puro são menos preocupados, ansiosos e quem sabe mais felizes. Bem fazem os artistas que imortalizam suas imagens em uma obra, e por mais que o tempo tente, ele nunca vence, porque o existir agora está xilogravurado no próprio tempo como uma tatuagem, um desenho que não morre, não perece, não padece, e por mais que o tempo tente tirá-lo, não consegue, porque ele está vivo na mente dos homens.

     E a felicidade nada mais é do que a aceitação da comodidade adquirida, e assim o indivíduo acomodado com a situação alcançada, se sente feliz. Se há uma vontade de algo que ainda sente internamente ou percebe que algo está faltando, então você não é feliz. Porque ninguém é meio feliz. Ninguém é metade feliz e metade triste. Estes são sentimentos que não se completam. Ou é um ou outro. Quando alcançar 90% dos seus objetivos e praticamente 90% da sua felicidade, você estará feliz? E se fosse ao contrário? Se 98% dos seus objetivos alcançados representasse apenas 2% do que você considera felicidade, ainda assim você se consideraria feliz com apenas 2%? Se busca algo ainda, quem motivará você: a angústia pela busca daquilo que anseia ou a comodidade e aceitação da possibilidade de não o ter? Se há aquela falta de algo que não saberá se alcançará isso não quer dizer que você não seja feliz? Pois é. É assim que me sinto.

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