domingo, 8 de julho de 2012

BANQUETE DE MIM





Marcel Moreno

             Todos os dias me devoro. Saboreio cada pedaço de minhas entranhas até que meu cérebro quase estoura de tanta informação.

                Sim. Me devoro porque meu leio. Me lendo me saboreio. Em um raciocínio ou outro, me conheço mais, me encanto neste divertido deleite.

Se me leio é porque lendo-me adquiro mais de  mim. Me aproximo do eu que antes repousava em meu estomago. Agora está aqui mais do que nunca.


                Se falo muito de mim é porque este é o assunto que domino. Não me mostro, não me exalto, me coloca a disposição para que você saborear também.

                Saboreando-me você tem um pedaço de mim em você. Os gregos achavam que devorando um outro, toda sabedoria está contida agora dentro de quem comeu.

                Quando escrevo ou falo, deixo uma parte de mim a disposição de quem estiver com fome. Fome esta que se dissipa a cada momento.

                Como na eucaristia, devoramos o corpo e o sangue de cristo para assim podermos gozar da divindade que outrora caminhava na terra. Assim somos nós e ele num único corpo.

                Platão não deu nome de O Banquete a seu livro não por conta da comilança. Ele mesmo define como banquete de ideias. Leia-o e dele terás um pouco, você será um pouco.

                Se já, por lei do homens, não posso me servir em carne e sangue real, deixo minha pouco sabedoria útil inútil para quem quiser desvendar este mundo que não tem fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário